A porta giratória de saída do aeroporto de Lisboa foi a última etapa para o primeiro passo como nômade em uma nova cidade. O vento frio que recebi no rosto era mais do que um bem vindo, era um sinal de atenção. Estava sozinho em um país distante, com duas malas que representavam, naquele momento, o que tinha de material. Havia me tornado essencialista ao longo dos últimos dois anos e já estava acostumado à simplicidade, mas era estranho saber que tudo estava em movimento comigo e que não havia mais um lugar como “base”.
Da atenção ao medo, do medo ao entusiasmo , iniciei minha busca pelo Uber para me conduzir ao primeiro lar de minha nova vida. Aliás, certa vez li que entusiasmo vem de “entusiasmos” que significa estar possuído por Deus. Para mim, é aquela sensação de superação de um medo à partir de uma vocação ou um sonho. Bem, essa era a minha sensação que se contrapunha ao senso de responsabilidade de gerir muito bem as coisas dali para frente.
Peguei o Uber e segui em direção a minha primeira casa, um conselho( município) perto de Lisboa. Deixei as malas, entendi como deveria proceder em relação às rotinas e parti para o centro de Lisboa. Precisava percorrer a cidade que havia conhecido em 2018. Paixão é algo que sinto por todas as cidades que visito ou moro. É algo maior do que eu. Sou realmente apaixonado pelas cidades e seus comportamentos.
Naquele momento, Lisboa, assim como grande parte do mundo, estava vazia e sob a sombra do covid. A pandemia havia gerado a oportunidade de iniciar meu trabalho apenas online , o que era maravilhoso para minhas pretensões, mas também angustiante pela dor gerada e pelas muitas dúvidas sobre o que aconteceria dali por diante.
Nos meses seguintes, vivi em Lisboa , morei no Porto e retornei a Lisboa, fiz amigos, me senti solitário, ganhei e perdi negócios, exercitei o planejamento e a adaptabilidade e principalmente me apaixonei ainda mais por essas duas cidades e outras três que tive o prazer de morar. Viver em Santiago de Compostela, na Espanha e estar em plena festa do apóstolo com milhares de pessoas chegando na icônica praça da catedral, emocionadas com a conclusão do caminho.
Santiago de Compostela – Espanha
Ou em Figueira da Foz, uma cidade de muitas praias em Portugal, em pleno Gliding Barnacles, um evento de surf que nos leva novamente aos anos 70, foram experiências tão incríveis quanto inesperadas.
Glinding Barnacles- Figueira da Foz – Portugal
Sem falar na festa de São João no Porto, que eu diria que é uma mistura de São João com Carnaval e Reveillon.
É claro que não foram apenas momentos bons. Sempre existem os perrengues, mas também existem anjos que surgem nos momentos em que mais precisamos. Isso me deu mais atenção a me tornar anjo de alguém, quando necessário.
Ainda lembro daquele tapa de ar frio na chegada a Portugal e hoje continuo tentando manter minhas coisas materiais em duas malas e as experiências e tantas outras coisas na alma. Hoje, estou vivendo no Porto, cidade que me identifiquei pela energia, beleza, cultura e pessoas.
Minha compreensão é que somos todos nômades em um planeta girando a 465 metros por segundo, vivendo ciclos e transformações e tudo em nós também está em movimento.
Que o nosso movimento seja na busca de nosso próprio destino, de nosso Dharma, de nossos sonhos, objetivos e resultados, entendendo que mais importante do que grandes espaços para guardar coisas materiais, são as experiências verdadeiras entre nós, as ideias, as pessoas e os lugares!
Boa viagem e até a próxima!