Em uma certa empresa em que trabalhei, um novo diretor, já no primeiro mês, eliminou todas as salas particulares, abrindo um grande salão onde todos passamos a nos ver e a nos enxergar de forma horizontal. A estrutura anterior de feudos estava ali há muitos anos e com ela uma forma de pensar e agir. Mesmo que possa ter controvérsias hoje em relação ao modelo sem paredes por questões relacionadas a barulhos e desatenção , a atitude desse novo diretor teve como objetivo sinalizar uma nova forma de gestão. Simultaneamente alinhou poucos e importantes indicadores para serem tratados em uma reunião semanal, primeiro com as gerências e depois com as diretorias.
Aquelas duas ações representaram a liderança pelo design. Ele desenhou o conteúdo com os indicadores e o formato com a configuração do espaço.
Transparência, alinhamento estratégico e objetividade foram os resultados imediatos dessa intervenção.
Poderia citar aqui outros exemplos que se seguiram no processo de design estratégico que aquele diretor implementou no grupo onde eu trabalhava como head em expansão de marcas e negócios, mas gostaria de explorar as duas citadas e deixar as outras lições para outros artigos que pretendo escrever sobre a liderança pelo design e que sua leitura muito me honrará.
Diversos pensadores tem buscado trazer lucidez sobre o mundo que está acontecendo hoje e o que virá depois. O fato é que a a imprevisibilidade ganha de todos, por mais brilhantes que sejam.
O mundo “FANI”, frágil, ansioso, não linear e incompreensível é um desafio complexo, especialmente para líderes e profissionais que precisam propor direções e soluções.
Já escrevi aqui muitas vezes sobre a estratégia de aprendizagem ser a mais importante competência de uma empresa e tenho me dedicado a estudar especialmente o aprendizado como pessoa e como pensador de organizações.
Inevitavelmente tive que olhar para os países que lideram os indicadores de aprendizado no mundo e principalmente para as metodologias que utilizam.
Dentre muitas políticas públicas e iniciativas privadas, me deparei com coisas muito interessantes como por exemplo o museu do fracasso na Suécia https://museumoffailure.com/ , “onde existe uma coleção de produtos e serviços que falharam em todo o mundo. A maioria de todos os projetos de inovação falham e o museu mostra essas falhas para proporcionar aos visitantes uma experiência de aprendizado fascinante. Cada item fornece uma visão única sobre o arriscado negócio da inovação. Inovação e progresso exigem uma aceitação do fracasso. O museu visa estimular a discussão produtiva sobre o fracasso e nos inspirar a assumir riscos significativos.”
Outra referência interessante encontrei na escola Vittra, também na Suécia, https://rosanbosch.com/en/project/vittra-school-telefonplan, onde a arquitetura e o design moldam a experiência do aprendizado e a tecnologia potencializa a absorção do conteúdo.
São dois exemplos que demonstram modelos mentais e práticos de promover a inovação, mas existem muito mais em diferentes países e organizações do mundo desenvolvido e em desenvolvimento. Embora existam condições diferentes de lugar para lugar, duas coisas são presentes em todos eles : o valor pelo aprendizado e o espaço para inovação. Se esses dois fatores não estiverem presentes na mente dos líderes e da cultura dos países e das organizações, nenhuma tecnologia ou recurso é capaz de fazer realmente a diferença.
Uma de minhas conclusões nesses estudos é que as empresas precisam se transformar em centros de aprendizagem, gerando inovação, valor e competitividade.
Para isso, os patrocinadores precisam entender a necessidade atual e futura e quem vai executar precisa desenvolver a estruturação de forma contínua. Não é apenas um projeto. É uma cultura.
Abaixo, algumas ideias sobre como fazê-lo:
1) Aprenda com quem é bom em aprender :
Busque conhecer metodologias de aprendizado. Ouvimos muito que um país só muda e evolui pelo caminho da educação, mas de fato, poucos governos focam estrategicamente e no longo prazo. Assim são as empresas também. Se sua empresa fosse um país, que tipo de país ela seria no quesito educação ? Aprenda com metodologias, exemplos, casos de governos, escolas e organizações que possuem essa competência. Já pensou em ter um professor como consultor ?
2) Invista em aprendizado:
Quanto de seu orçamento está sendo investido realmente em aprendizado? Quanto de seu tempo e atenção ? Você tem valorizado realmente o seu próprio aprendizado e o das pessoas que tocam o seu negócio junto com você ?
3) Melhore a experiência de aprendizado :
Seja de forma física ou digital, implemente projetos que melhorem a experiência de aprendizado. A atenção segue o interesse , que pode ser despertado e desenvolvido. Ambiente livres, coloridos, diversos propiciam canais emocionais e mentais mais abertos ao conhecimento. Utilize o visual, o auditivo e o cinestésico para que o ambiente seja poderoso e a experiência inesquecível sempre. Em outro artigo https://www.linkedin.com/pulse/como-transformar-sua-empresa-em-uma-m%C3%A1quina-de-e-liderar-carvalho/, falo sobre alguns gatilhos para melhorar a experiência do profissional.
4) Utilize tecnologia :
Aproveite o hábito de uso das ferramentas que já existem. Se o pessoal utiliza WhatsApp, crie grupos por temas para troca de conteúdo, se utilizam redes sociais, crie perfis fechados que possa utilizar como transmissão de conhecimento. Se já possui uma rede, utilize a rede. Enfim utilize o que tiver de tecnologia de uso habitual e busque novas opções sempre. Tecnologia potencializa o aprendizado . Por exemplo, um relatório da Gartner aponta que, em até 2026, 25% das pessoas deverão gastar pelo menos uma hora por dia em algum ambiente metaverso. Que tal entender como utiliza-lo no futuro próximo ?
5) Utilize o capital de conhecimento sua empresa :
Promova troca de conhecimento. Alguém sabe alguma coisa que o outro não sabe.
Abaixo, a espiral do conhecimento, uma maneira de gerir conhecimento absorvendo prática e transformando-a em teoria e absorvendo teoria e transformando-a em prática.
O importante é utilizar o capital de conhecimento que já existe no seu time e que talvez não esteja sendo utilizado na empresa.
6) Promova a inovação, eliminando o medo de errar :
Se o medo do erro existe na sua empresa, você está perdendo muito. Reformule a sua forma de gerir. Sinalize uma nova fase assim como aquele diretor sinalizou quando chegou na empresa em que eu trabalhava. Comece contando os seus erros que originaram acertos porque você aprendeu com eles e evoluiu. Não estou me referindo a erros que possam ter havido na operação, mas a erros pela tentativa de inovar. Se não tiver alguns para dizer, você esta precisando rever sua gestão e liderança em tempos de inovação constante.
7) Coloque o aprendizado dentro da estratégia da empresa:
Sabemos que é possível criar e disseminar cultura de forma inteligente, se ela for verdadeira.O conteúdo do aprendizado precisa estar alinhado com os objetivos estratégicos de sua empresa. Se você visa o mercado internacional, terá que desenvolver uma gama de aprendizados, se foca na otimização de processos produtivos, é ali que tem que implementar o conteúdo certo. O aprendizado precisa estar na sua estratégia de negócio.
Quando conheci o design thinking , algum tempo depois de minha rica experiência com o nosso diretor da história acima, me apaixonei de primeira. Talvez pela visão sistêmica, colaborativa e eficácia. Talvez pela simplicidade, agilidade e eficiência ou quem sabe pela diversidade, criatividade e inovação. O fato é que descobri no design thinking maneiras de encarar e resolver problemas complexos e de exercer aquilo que acredito como líder.
A longo desse tempo, aprendi a mesclar o design thinking com planejamento estratégico e gestão ágil de projetos. Assim como as tecnologias se potencializam e se retroalimentam quando conectadas, o conhecimento age da mesma maneira. Não há limites!
Mas se não definir bem o problema, manter a mente aberta para as soluções, planejar de forma sistêmica e ter disciplina para realizar, os sonhos e objetivos ou problemas estarão no mesmo lugar.
Nada substitui a atitude consistente e constante. Absolutamente nada!
O primeiro lugar que o design precisa fazer efeito é na mente de quem está de frente para o problema ou oportunidade.
Sobre isso, falarei em um próximo artigo.
Até lá, bom aprendizado!