Começo esse texto sentindo medo. Quanto mais pesquiso e entendo o assunto que vou discorrer aqui, mais sinto esse medo e acho isso ótimo. Compreendo que estou no caminho certo. Talvez você ache que esse é um texto pessimista, mas eu não diria isso. Você poderá avaliar a sua própria sensação, depois de tê-lo lido.
Essa história se inicia na antiguidade. Os gregos chamavam a natureza de Physis, entendendo ser ela a realidade imortal. Para eles, tudo o que nascia era destinado a ser o que dever ser e não outra coisa. Vivíamos sob a autoridade da natureza. Era um mundo vertical onde a determinação era a força que regia tudo.
Depois, a religião se transformou na força dominante. Trocamos a determinação pela disciplina. Continuamos em um mundo vertical, onde uma força maior acima determinava a ordem e o funcionamento das coisas.
Com o Iluminismo, o homem foi para o centro. Continuamos religiosos, mas a explicação e a lógica assumiram o comando das nossas vidas, regendo sistemas e mais sistemas à partir disso.
Em todas essas fases, nossa forma de funcionar como sociedades, era vertical. Nossos pensamentos e comportamentos eram regidos por uma linha que trazia segurança, respostas e uma organização concreta.
No mundo atual, saímos da verticalidade e entramos em um universo horizontal, diverso, plural e por isso dinâmico e imprevisível. Não é mais sequencial. Funciona em rede.
Estamos em uma fase de transição ainda. O antigo e o novo se chocam. Existem estruturas ainda muito rígidas e outras completamente líquidas.
Por isso existe tanta polaridade política e por isso estamos confusos. Se você não está é porque ainda não entendeu o que está acontecendo. Estar confuso é o primeiro sinal de lucidez nesse novo mundo.
E não só confuso, mas com medo, com dúvidas, inseguranças e tantas outras sensações e emoções que surgem pela mudança de um estrutura lógica para uma lógica sem estrutura. É o fluxo simultâneo e diverso acontecendo com mudanças e informações que não conseguimos acompanhar.
Por isso, as empresas e profissionais de hoje não devem ser movidos pelas convicções cegas, mas pelas dúvidas curiosas.
Aprender a desaprender para aprender outra coisa se tornou uma das principais habilidades e isso cria mais uma sensação de insegurança. Menos um alicerce. As respostas não servem mais porque as perguntas mudaram de novo. Estamos no tempo da tecnologia e não mais no tempo cronológico.
Apesar de sermos a geração mais bem informada de todos os tempos, a sensação que temos é de precisar saber sempre mais e rápido, porém nossa capacidade de absorção é muito menor do que a velocidade com que as informações chegam e mudam. Nesse mundo caótico, precisamos mudar a maneira que nos acostumamos a pensar, trabalhar e empreender.
Há um antigo provérbio chinês que diz que mais produtivo do que amaldiçoar a escuridão, é acender uma vela. Esse texto não amaldiçoa a escuridão até porque quanto mais resistirmos às mudanças, mais problemas teremos. Aceitar a impermanência constante é o primeiro passo para recuperar o ritmo. É a primeira vela que precisamos acender. E precisamos acender logo a segunda rapidamente pois não existe tempo de adaptação após passarmos pelo tempo de negação. Precisamos entrar logo no tempo da crise, que escrito pelo ideograma chinês, é representado pelas palavras risco e oportunidade. Ora, se o tabuleiro está sendo mexido o tempo inteiro, é sinal que existem oportunidades dependendo do meu posicionamento, da minha interpretação do jogo e da minha atitude.
Vejamos alguma jogadas interessantes então :
A primeira jogada fundamental é assumir a autonomia e tomar decisões. Nesse novo mundo não existem mais padrões. As escolhas são mais livres. As verdades sobre como as coisas deveriam ser não existem mais. Agora é a sua capacidade de escolha e de tomar decisões que está na frente. Escolher algo, quer dizer abrir mão de outras possibilidades, mas também é possível fazer escolhas diversas.
A segunda jogada e alicerce para a primeira é assumir seu propósito de vida e sua proposta de valor profissional. Serão imprescindíveis para tomar decisões. Mesmo que não se mostrem assertivas ao longo do tempo, serão decisões alinhadas com a sua vocação. Decisões muitas vezes são percursos que tomamos para o mesmo lugar. Podemos até mudar o percurso , mas o mais importante é chegar ao destino que almejamos, entendendo também que é um alvo móvel.
A terceira jogada é entender que os ativos e seus valores mudaram. Resultados lineares ou concretos estão deixando de refletir o valor agregado dos ativos. As chamadas organizações infinitas, ou que tendam ao infinito, são empresas capazes de criar ativos novos que geram novos mercados e recorrência. Para isso, é necessário se desprender do sucesso presente, buscando novas possibilidades constantemente.
A quarta e última jogada desse torneio é focar na regeneração. Não basta dar respostas aos sintomas , às dores que estão latentes no planeta e nas sociedades. É preciso oferecer regeneração. Não basta oferecer estrutura de trabalho com benefícios e respostas aos sintomas do stress. É preciso reformular a maneira como o trabalho é entendido e praticado. Não basta praticar ações sociais. É preciso entender a empresa à partir de sua missão social. Não basta patrocinar a cultura. É preciso ser cultura.
Esse novo mundo está cheio de desafios e tem nos acelerado, causando medo, incertezas e inseguranças. Todas as emoções que temos são úteis em determinada proporção.
Medo pode gerar mais atenção, incerteza pode gerar mais curiosidade e insegurança pode gerar mais humildade.
É dessa maneira que procuro me preparar todos os dias.
Atento, curioso e humilde.
Não deixe de acender suas velas, observar o tabuleiro e jogar o seu jogo …