Santiago de Compostela, lenda pessoal, peregrino oculto e cervejas.

O dia ia chegando ao fim e eu mais uma vez estava chegando em um novo lugar, com um novo olhar para mim e para tudo.

A primeira sensação que tenho quando chego em um outro lugar é o ritmo do idioma local. A música muda. Agora tenho que escutar e não mais apenas ouvir. Perceber de forma mais atenta. Automaticamente também a expressão corporal do outro se transforma em palavras e frases para mim.

Nesse momento, estou chegando em Santiago de Compostela.

Curioso para conhecer a lendária cidade dos peregrinos e ver como me sinto nela.

Após fazer o procedimento de chegada, saio para descobrir a cidade no frio e no escuro de suas ruas medievais. Automaticamente me transporto para algum lugar do passado que talvez tenha vivido em sonhos ou em vidas. Não estou no campo da lógica, mas da sensibilidade.

Ouço um barulho de gente falando e vou na direção do som. Me deparo com uma taberna a meia luz, com um grupo de pessoas rindo e falando alto aos goles de cervejas e vinhos. Como todo forasteiro, chego devagar, observando o lugar e tentando fazer minha primeira conexão. Um senhor barbudo olha em minha direção e me cumprimenta. Retribuo e peço uma Estrela Galícia, cerveja galega que disputa com a catalã Estrela Dam , o título de melhor cerveja da Espanha. Para mim, as duas são ótimas, ainda mais acompanhadas por tapas, petiscos que os espanhóis gentilmente servem de graça junto com a cerveja. O objetivo também é estimular o maior consumo da bebida, com o consumo de coisas salgadas. Jogo do ganha – ganha.

Pego a cerveja e sento em uma cadeira, acompanhado do telefone, que além de servir para tantas coisas, também serve como companhia.

Dou uma olhada nas mensagens, redes sociais e volto para o momento presente , pedindo outra cerveja.

Nesse momento, arrisco o meu fraco espanhol, perguntando para um rapaz do grupo que estava ali, como chego ao “Peregrino Oculto”, uma incrível ilusão de ótica causada por uma sombra semelhante a um peregrino.

Em viagens, aprendi a me conectar com as pessoas perguntando sobre fatos ou lugares que as façam contar histórias. Foi o que aconteceu.

Não só ele me esclareceu como chegar, como evolui nas perguntas e outras pessoas entraram na conversa, que se estendeu para outros temas de forma natural, enquanto a segunda cerveja chegava.

Estava em casa! Em pouco tempo havia me inserido na conversa, aprendido um pouco sobre o lugar e aquecido meu corpo e coração naquela noite fria de um lugar desconhecido.

Na vida e nos negócios, também é assim que funciona. Precisamos abrir conexões com perguntas que façam as pessoas contarem histórias.

Às vezes estamos tão ocupados em falar, vender, produzir que perdemos riquezas maravilhosas que são as histórias contadas pelos próprios personagens. Será que conhecemos as histórias de nossos vizinhos, das pessoas que trabalham conosco, dos nosso clientes? Tem tanta coisa maravilhosa se perdendo na falta de tempo e uma boa conexão.

Talvez esse texto te encontre em uma situação difícil, daquelas que precisamos resistir.

Ou talvez você esteja nesse instante buscando aprender e por isso lê coisas que possam lhe ajudar a solucionar o problemas, superar desafios ou avançar rumo ao seu objetivo.

Onde você estiver nesse momento no dinâmico fluxo da vida, espero me conectar de forma autêntica com você.

Tudo está muito dinâmico e os encontros são espaços raros de permissão de si mesmo e também do tempo que virou degraus de uma escada chamada sucesso.

Tenho produzido como nunca, mas de verdade, me sinto tanto entusiasmado quanto exaurido. Momentos como o de Santiago de Compostela me fazem equilibrar minhas diversas camadas. Sou um doador e também um profundo interessado em aprender, mas também sou um tempo livre, um café sem pressa, uma conversa que se inicia e finaliza sem compromisso de nada, apenas pelo simples fato de estarmos ali, capazes de entender o tempo e as conexões.

Quando aprendi acupuntura, entendi que o equilíbrio é o nosso grande desafio. Pela filosofia oriental não se trata um sintoma, se equilibra um organismo. Essa é a minha visão sobre empresas e negócios. Um sistema formado por subsistemas, dentro de um sistema maior. Quantos empreendedores com ideias e atitudes incríveis não progridem por não serem empresários, com foco na gestão. E quantos empresários precisam de uma boa dose de energia empreendedora para sobreviverem às mudanças dos mercados.

O desafio do equilíbrio está presente em todos os pontos de nossas vidas.

O que às vezes parece caos, pode ser um equilíbrio dinâmico, como a natureza e o que parece perfeição pode ser um desequilíbrio estático. Acredito que tudo dependa da direção que se está indo.

A vida em Santiago se transformou depois em uma caminhada constante para dentro de mim mesmo e dos mistérios da cidade. Meu grande prazer era ver os peregrinos chegarem. Alguns em grupo, outros solitários, de todas as idades e lugares, mas todos com uma expressão de encontro consigo próprio e suas lendas pessoais na vitória da superação.

Conheci pessoas muito interessantes, elegi lugares preferidos, vivenciei a cidade com outras pessoas que já faziam parte de minha vida e tudo se conectou de forma natural.

Estou planejando fazer o caminho de Santiago com a mestra no assunto Maria Alice Medina, que já o percorreu 13 vezes e escreveu o livro “Do Rock à Compostela, às vezes se ganha, às vezes se aprende”.

Tenho certeza que será um convite ao equilíbrio dinâmico, além do exigido pelos passos em diferentes tipos de terrenos e ambientes.

Essa mesma dinâmica é exercida por mim hoje no meu dia a dia, equilibrando meus sistemas e indo na direção da minha lenda pessoal.

Tenho certeza que você também tem a sua. Todo mundo tem.

E independente de onde estiver no seu caminho, se em uma difícil subida no meio da chuva e da lama ou quase chegando na sua cidade de Compostela, que quer dizer “Campo de Estrelas” em espanhol, prossiga sabendo que a lenda não é chegar e que o caminho sempre será você mesmo!

Nos encontramos em algum lugar dele.

Boa caminhada!